por Ana Prestes, em 17.09.07
Uma coisa é a opinião pública. Outra coisa é o que a imprensa quer que seja a opinião pública.
O mais impressionante no caso da cassação de Renan Calheiros foi a militância da mídia. Sempre se amparando em uma dita opinião pública que na prática não se sabe com que ferramentas foram aferir. A formação da opinião pública é algo muito mais complexo do que tentam sugerir. Não basta a Veja vender um escândalo ou o Jornal Nacional profetizar alguns princípios morais e éticos na hora do jantar. Perante uma população assustada com a avalanche mediática e com pouca autonomia pra buscar informação. Para se dizer que está formada a opinião pública.
O conceito de opinião pública e o seu processo de formação pode ser encontrado na Teoria Habermasiana. Segundo a qual, a formação de uma opinião pública está vinculada à possibilidade da existência de uma praxis argumentativa pública, proveniente de uma livre discussão entre os cidadãos. Este processo é corrompido quando se excluem deliberadamente certos assuntos da discussão pública, com a burocratização das estruturas de comunicação ou por controle manipulativo dos fluxos de informação. Será que isto se encaixa ao Brasil?
Tudo isso é agravado quando a legislação vigente nestes países não contém nenhum dispositivo que assegure a democratização da produção e do acesso às informações mediatizadas. Este processo está muito bem apresentado na análise de Gramsci sobre o conjunto de aparelhos privados de hegemonia que são utilizados para formar e organizar os valores e a ideologia da sociedade civil, com destaque para a imprensa. Uma mídia dirigida e garantida pelo capital privado se proclama a detentora do debate público. Faz a pauta e fecha as questões. Muito antes das pessoas se darem conta do assunto.
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